Jaculatória de singelezas ímpares

Artigo publicado na edição 173 do Jornal Pensar a Educação em Pauta

Dalvit Greiner

Cá estou eu lendo correios eletrônicos e ouvindo o presidente “não eleito” da elite branca deste país, entrevistado na China – onde foi vender o Brasil, literalmente – respondendo aos repórteres sobre o decreto que autoriza a mineração na Amazônia. No entendimento de seu governo, trata-se da correção de uma ocupação ilegal, já consumada, de grileiros e garimpeiros. Simples assim. Dessa forma o Governo autoriza a exploração mineral na Reserva Nacional do Cobre, cujos beneficiários diretos são da família Jucá, tornando legal o que é ilegal. Nas palavras de Temer a solução dada é de uma “singeleza ímpar”.

Lá no início de seu governo a demonstração já havia sido dada. Tão logo usurpou o poder do Estado, comprou o poder da Nação fazendo passar com o talão de cheques um orçamento com déficit 80% maior do que o previsto pelo Governo Dilma – de 96 para 170 bilhões em 2016. O Governo Dilma não previa em seu orçamento o absurdo pagamento dos bancos neste ritmo que agora vemos, por isso previa um déficit menor. Foi tirada do cargo com a desculpa esfarrapada das “pedaladas fiscais” que imediatamente o Congresso comprado legalizou para o governo Temer. Assim, um Governo corrupto recebe as chaves do cofre e resolve “corrigir” o orçamento e as prioridades com a PEC 241, não congelando o pagamento aos bancos tornando legal o que é ilegal. Uma singeleza ímpar.

Os índios Guarani da Reserva Jaraguá invadiram o Ministério da Justiça e a Casa da Presidência em São Paulo em protesto contra a invasão de suas terras e a reversão de um direito constitucional à terra de seus ancentrais. Em discussão com o ministro da Justiça – Torquato Jardim – que do alto de sua sabedoria jurídica, desconhece o “direito originário” inscrito na Constituição Federal ao anular a demarcação afirmando que a terra pertence ao Estado de São Paulo. Portanto, no seu raciocínio jurídico, os índios estão ocupando aquelas terras ilegalmente. Assim, segundo o ministro, para legalizar a terra resolve tomar 530 hectares aos Guarani (deixando-os em apenas dois hectares) devolvendo-a ao Estado de São Paulo. Assim, o Governo expulsa os Guarani que vivem e protegem a terra, entregando-a ao governador Alckmin para privatizar o parque, tornando legal o que é ilegal.Uma singeleza ímpar.

Que o nosso Ensino Médio precisava de uma reforma ninguém o negava. Estudantes e professores já vinham buscando soluções de melhoria para essa etapa da educação básica. Porém, o governo de Temer imediatamente decretou uma reforma de intragável sabor econômico que impede os mais variados projetos de vida de nossos adolescentes, reduzindo-os aos interesses de formação da indústria com preparação de mão de obra técnica e barata. Numa propaganda mentirosa – meia verdade é sempre uma mentira! – afirma que 72% dos brasileiros aprovam o novo ensino médio, numa pergunta feita a um público com mais de 55 anos de idade. Com essa aprovação de velhos o governo legisla para os mais novos fazendo parecer que é democrático, desconhecendo e ignorando as ocupações realizadas no final do ano passado contra essa reforma. Assim o Governo atende aos empresários da indústria e do ensino dificultando e impedindo disciplinas críticas – do ponto de vista da crítica social – tornando legal um currículo ilegal. Uma singeleza ímpar.

Esta é a lição desse governo ilegal. O que não é ou não está legal é tornado legal, com singeleza ímpar, conforme a vontade do mandatário geral que declara, sem nenhum pudor, aquilo que considera legal. E esse recurso vai sendo transferido para as outras esferas de poder. Tornamo-nos o país de uma singeleza ímpar onde a pós-verdade vai justificando a legalização de atos espúrios praticados por pessoas imorais. O caixa dois de campanha está quase legal. A corrupção continua legal. A redução do salário mínimo tornou-se legal. A reforma trabalhista que legaliza o trabalho escravo também. O parlamentarismo com fundo partidário bilionário está quase lá, confirmando e legalizando deputados ilegais em suas cadeiras de foro privilegiado.

Um filme, da onda imoral da pós-verdade, será lançado no dia 7 de setembro, dia da Proclamação da Independência, proclamando que a lei é para todos. Qual lei? Todos quem? Poderíamos fazer uma lista enorme de ilegalidades legalizadas com singeleza ímpar. Mas, para terminar essa jaculatória de singeleza ímpar mais uma ação tornada legal: ejacular nas pessoas e em público agora é legal. É isso que fazem conosco.

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Jaculatória de singelezas ímpares

Dalvit Greiner

Cá estou eu lendo correios eletrônicos e ouvindo o presidente “não eleito” da elite branca deste país, entrevistado na China – onde foi vender o Brasil, literalmente – respondendo aos repórteres sobre o decreto que autoriza a mineração na Amazônia. No entendimento de seu governo, trata-se da correção de uma ocupação ilegal, já consumada, de grileiros e garimpeiros. Simples assim. Dessa forma o Governo autoriza a exploração mineral na Reserva Nacional do Cobre, cujos beneficiários diretos são da família Jucá, tornando legal o que é ilegal. Nas palavras de Temer a solução dada é de uma “singeleza ímpar”.

Lá no início de seu governo a demonstração já havia sido dada. Tão logo usurpou o poder do Estado, comprou o poder da Nação fazendo passar com o talão de cheques um orçamento com déficit 80% maior do que o previsto pelo Governo Dilma – de 96 para 170 bilhões em 2016. O Governo Dilma não previa em seu orçamento o absurdo pagamento dos bancos neste ritmo que agora vemos, por isso previa um déficit menor. Foi tirada do cargo com a desculpa esfarrapada das “pedaladas fiscais” que imediatamente o Congresso comprado legalizou para o governo Temer. Assim, um Governo corrupto recebe as chaves do cofre e resolve “corrigir” o orçamento e as prioridades com a PEC 241, não congelando o pagamento aos bancos tornando legal o que é ilegal. Uma singeleza ímpar.

Os índios Guarani da Reserva Jaraguá invadiram o Ministério da Justiça e a Casa da Presidência em São Paulo em protesto contra a invasão de suas terras e a reversão de um direito constitucional à terra de seus ancentrais. Em discussão com o ministro da Justiça – Torquato Jardim – que do alto de sua sabedoria jurídica, desconhece o “direito originário” inscrito na Constituição Federal ao anular a demarcação afirmando que a terra pertence ao Estado de São Paulo. Portanto, no seu raciocínio jurídico, os índios estão ocupando aquelas terras ilegalmente. Assim, segundo o ministro, para legalizar a terra resolve tomar 530 hectares aos Guarani (deixando-os em apenas dois hectares) devolvendo-a ao Estado de São Paulo. Assim, o Governo expulsa os Guarani que vivem e protegem a terra, entregando-a ao governador Alckmin para privatizar o parque, tornando legal o que é ilegal.Uma singeleza ímpar.

Que o nosso Ensino Médio precisava de uma reforma ninguém o negava. Estudantes e professores já vinham buscando soluções de melhoria para essa etapa da educação básica. Porém, o governo de Temer imediatamente decretou uma reforma de intragável sabor econômico que impede os mais variados projetos de vida de nossos adolescentes, reduzindo-os aos interesses de formação da indústria com preparação de mão de obra técnica e barata. Numa propaganda mentirosa – meia verdade é sempre uma mentira! – afirma que 72% dos brasileiros aprovam o novo ensino médio, numa pergunta feita a um público com mais de 55 anos de idade. Com essa aprovação de velhos o governo legisla para os mais novos fazendo parecer que é democrático, desconhecendo e ignorando as ocupações realizadas no final do ano passado contra essa reforma. Assim o Governo atende aos empresários da indústria e do ensino dificultando e impedindo disciplinas críticas – do ponto de vista da crítica social – tornando legal um currículo ilegal. Uma singeleza ímpar.

Esta é a lição desse governo ilegal. O que não é ou não está legal é tornado legal, com singeleza ímpar, conforme a vontade do mandatário geral que declara, sem nenhum pudor, aquilo que considera legal. E esse recurso vai sendo transferido para as outras esferas de poder. Tornamo-nos o país de uma singeleza ímpar onde a pós-verdade vai justificando a legalização de atos espúrios praticados por pessoas imorais. O caixa dois de campanha está quase legal. A corrupção continua legal. A redução do salário mínimo tornou-se legal. A reforma trabalhista que legaliza o trabalho escravo também. O parlamentarismo com fundo partidário bilionário está quase lá, confirmando e legalizando deputados ilegais em suas cadeiras de foro privilegiado.

Um filme, da onda imoral da pós-verdade, será lançado no dia 7 de setembro, dia da Proclamação da Independência, proclamando que a lei é para todos. Qual lei? Todos quem? Poderíamos fazer uma lista enorme de ilegalidades legalizadas com singeleza ímpar. Mas, para terminar essa jaculatória de singeleza ímpar mais uma ação tornada legal: ejacular nas pessoas e em público agora é legal. É isso que fazem conosco.

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