Escolas fechadas, trincheiras de civilização!

Editorial da edição 286 do Jornal Pensara  Educação em Pauta 

Em certos momentos, coletiva ou individualmente, dá a vontade de parar de falar das desgraças, como se assim, de alguma forma, elas fossem evitáveis. Infelizmente, na vida real, isso não ocorre. O fato de não falarmos da possibilidade de que as coisas piorem, só piora as coisas.

Não são poucos os ativistas sociais, lideranças políticas, intelectuais, pesquisadores e coletivos os mais diversos que têm ocupado o espaço público para denunciar que boa parte dos problemas que, neste momento, se debita à pandemia são, na verdade, históricos e deitam raízes no longo percurso histórico que nos trouxe até aqui.

Das nossas imensas e seculares desigualdades de gênero, raça, região, classe e outras mais, às mais variadas violências a que as populações mais pobres e marginalizadas estão sujeitas, passando pela apropriação do Estado para defender fins privados (nunca é demais lembrar que, aqui, o lucro é privatizado e o prejuízo é estatizado e socializado), a pandemia veio escancarar e aprofundar nossas pequenas e grandes misérias.

Há que se lembrar, sempre e sempre, que tudo poderia ser muito pior se muitos e muitas que nos antecederam não tivessem tombado na luta deconstrução e consecução de outros projetos, do mesmo modo como, hoje, há uma miríade de pessoas e coletivos que continuam doando a vida, a energia, as ideias e os recursos que têm no combate a todas as nossas mazelas e na construção de um país mais democrático, justo e igualitário.

Sãojustamente essa energia, essa boa vontade e o ímpeto político democrático e de defesa dos direitos que precisamos para continuar organizando e mobilizando o enfrentamento das grandes dificuldades que vêm por aí. Não podemos perder de vista que os mesmos grupos políticos e empresariais que comercializam a “Solidariedade S.A.”, não terão pejo em continuar mobilizando o Estado e as políticas públicas para o aumento da espoliação do país e da concentração de poder e riqueza.

No campo da educação, a irresponsabilidade que marca, secularmente, nossas elites e o empresariado da educação não terá pudor em expor nossas crianças e jovens, assim como as(os)  profissionais da educação, aos perigos de morte instalados no chão das escolas brasileiras. E, como já foi aqui denunciado, o aumento das desigualdades escolares e sociais será não apenas um efeito, mas um objetivo mesmo das políticas educacionais defendidas e estabelecidas pelos “homens de bem” que comandam a República, o MEC e os sindicatos dos donos de escolas privadas.

Nesses tempos de agora, defender a volta às aulas presenciais nas escolas públicas e privadas somente quando tivermos segurança para discentes e docentes é um imperativo de defesa da vida e uma forma de honrarmos aquelas e aqueles que nos antecederam nessa luta por um país mais decente, mais democrático e mais igualitário. As forças da morte já estão mobilizadas há muito tempo e não cessam de agir. É por isso que, neste momento, cada escola fechada é uma importante trincheira civilizatóriae um suspiro de esperança de que dias melhores virão.


Imagem de destaque: Rovena Rosa/ Agência Brasil

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Escolas fechadas, trincheiras de civilização!

Em certos momentos, coletiva ou individualmente, dá a vontade de parar de falar das desgraças, como se assim, de alguma forma, elas fossem evitáveis. Infelizmente, na vida real, isso não ocorre. O fato de não falarmos da possibilidade de que as coisas piorem, só piora as coisas.

Não são poucos os ativistas sociais, lideranças políticas, intelectuais, pesquisadores e coletivos os mais diversos que têm ocupado o espaço público para denunciar que boa parte dos problemas que, neste momento, se debita à pandemia são, na verdade, históricos e deitam raízes no longo percurso histórico que nos trouxe até aqui.

Das nossas imensas e seculares desigualdades de gênero, raça, região, classe e outras mais, às mais variadas violências a que as populações mais pobres e marginalizadas estão sujeitas, passando pela apropriação do Estado para defender fins privados (nunca é demais lembrar que, aqui, o lucro é privatizado e o prejuízo é estatizado e socializado), a pandemia veio escancarar e aprofundar nossas pequenas e grandes misérias.

Há que se lembrar, sempre e sempre, que tudo poderia ser muito pior se muitos e muitas que nos antecederam não tivessem tombado na luta deconstrução e consecução de outros projetos, do mesmo modo como, hoje, há uma miríade de pessoas e coletivos que continuam doando a vida, a energia, as ideias e os recursos que têm no combate a todas as nossas mazelas e na construção de um país mais democrático, justo e igualitário.

São justamente essa energia, essa boa vontade e o ímpeto político democrático e de defesa dos direitos que precisamos para continuar organizando e mobilizando o enfrentamento das grandes dificuldades que vêm por aí. Não podemos perder de vista que os mesmos grupos políticos e empresariais que comercializam a “Solidariedade S.A.”, não terão pejo em continuar mobilizando o Estado e as políticas públicas para o aumento da espoliação do país e da concentração de poder e riqueza.

No campo da educação, a irresponsabilidade que marca, secularmente, nossas elites e o empresariado da educação não terá pudor em expor nossas crianças e jovens, assim como as(os)  profissionais da educação, aos perigos de morte instalados no chão das escolas brasileiras. E, como já foi aqui denunciado, o aumento das desigualdades escolares e sociais será não apenas um efeito, mas um objetivo mesmo das políticas educacionais defendidas e estabelecidas pelos “homens de bem” que comandam a República, o MEC e os sindicatos dos donos de escolas privadas.

Nesses tempos de agora, defender a volta às aulas presenciais nas escolas públicas e privadas somente quando tivermos segurança para discentes e docentes é um imperativo de defesa da vida e uma forma de honrarmos aquelas e aqueles que nos antecederam nessa luta por um país mais decente, mais democrático e mais igualitário. As forças da morte já estão mobilizadas há muito tempo e não cessam de agir. É por isso que, neste momento, cada escola fechada é uma importante trincheira civilizatória e um suspiro de esperança de que dias melhores virão.


Imagem de destaque: Rovena Rosa/ Agência Brasil

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