Educação e Democracia

EDUCAÇÃO E DEMOCRACIA formam um binômio fundamental das teorias políticas e do pensamento pedagógico dos últimos séculos. Ainda que, ao longo desse período, os ritmos de estabelecimento de instituições, culturas e práticas democráticas sejam muito desiguais entre os países e que as instituições democráticas sempre estejam ameaçadas pelos ímpetos autoritários os mais diversos, não se concebe a existência da democracia moderna sem uma rede de instituições sociais, escolares ou não, que acolham as novas gerações que chegam ao mundo e as eduquem na e para a democracia.

O entendimento de que há uma relação intrínseca entre a educação, sobretudo em sua forma escolar, e o exercício da democracia  fizeram com que forças políticas, notadamente das diversas tradições liberais democráticas e socialistas, comunistas, anarquistas e outras de “esquerda”, convergissem para a defesa da educação pública como um valor fundamental. Efetivava-se, desse modo, a vocação educadora do Estado Moderno, tema fundamental para as teorias políticas modernas e contemporâneas.

No entanto, essa convergência nunca escondeu os conflitos fundamentais que estão subjacentes às lutas pelos sentidos da democracia e sobre as formas de efetivá-la politicamente. Um desses conflitos se situa justamente na própria luta pela educação. De um modo geral, as correntes liberais democráticas entendem que o papel do Estado é tão somente em relação à educação escolar, inclusive porque veem aí uma forma de, controlando o Estado, controlar a educação do conjunto da população. Os outros processos educativos seriam da ordem do privado.

As tradições de “esquerda” de um modo geral, por seu turno, embora defendam ardorosamente a escola pública, não enquadram a educação apenas em sua forma escolar, e defendem que cabe, sim, ao Estado, o estabelecimento de políticas educativo-culturais que abrangem o conjunto da vida humana. Sabedores de que a formação não se realiza apenas nos estreitos marcos da escola, defendem vigorosamente a publicização, ou seja, a politização dos processos educativos que se realizam no conjunto do mundo social.

Nessa perspectiva, os acontecimentos dos últimos dias no Brasil, em continuidade ao que temos visto pelo menos desde 2013, nos mostram a importância de nos atentarmos para os processos educativos de forte matiz autoritário que resultaram nas políticas igualmente autoritárias e na corrosão do Estado Democrático de Direito presenciados hoje. O apoio ao Golpe de 2016 e, sobretudo a eleição de Bolsonaro e o apoio que ele ainda hoje granjeia de parte significativa da população mostram que muito mais do que a escola, são outros processos educativos que nos constituem.

Nossa luta hoje é, sem dúvida, em direção ao restabelecimento de políticas educacionais dirigidas às escolas, suas profissionais, alunas e alunos, visando a garantir que as novas gerações encontram na instituição um espaço de convivência democrática e diversa, inclusive do ponto de vista das epistemologias, que as acolha e eduque para uma convivência íntegra e tranquila com as diferenças e os conflitos que constituem a cultura humana. De outra parte, não podemos deixar de incorporar as políticas educativas escolares ao conjunto dos projetos político-educativos-culturais-sociais que se dão fora da escola e, algumas vezes, contra a escola.

Problematizar, na escola,  os processos educativos que ocorrem no interior das famílias, dos movimentos sociais, nas mídias, nas artes, nos partidos, nas igrejas, é uma tarefa urgente e necessária. De outra  parte, libertar a educação dos muros da escola é fundamental se queremos, de fato, acolher e educar as novas e as velhas gerações para a democracia e para que repudiem atos autoritários e proto-fascistas como os que temos assistidos estarrecidos nos últimos anos no Brasil.

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Educação e democracia

A partir de uma parceria estabelecida no 8º Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares, a UFPB e a Unirio passaram a oferecer, a Disciplina “Educação e democracia: Perspectivas Epistemiológicas, teóricas e metodológicas sobre a pesquisa dos cotidiasnos de educação” no programa de pós-graduação em Educação. A professora Ana Claudia da Silva Rodrigues nos conta sobre como foi a disciplina.

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