Cuidar de quem cuida!

Editorial da edição 279 do Jornal Pensar a Educação em Pauta

O impacto da pandemia nos sujeitos da educação escolar é avassalador, como apontam depoimentos, documentários e estudos científicos. Da educação infantil à pós-graduação, em todo o mundo, a população escolar atingida foi da ordem de bilhões de indivíduos. Se, em alguns países há iniciativas que visam criar condições para a volta do alunado e do professorado ao espaço escolar, em muito outros, como o Brasil, pensar nessa volta é, hoje, uma grande incógnita.

Muito se tem discutido, aqui no Brasil e em vários lugares do mundo, os impactos do distanciamento social escolar na vida cotidiana das famílias, das crianças e das(os) profissionais da educação. Do mesmo modo, há também variados estudos e discussões sobre o impacto da adoção de tecnologias de ensino remoto na qualidade da educação, sobretudo a pública, e no aprofundamento das  desigualdades escolares.

Uma das dimensões que mais têm sido discutidas é o impacto da pandemia sobre professoras e professores, sobretudo da educação básica. Há variadas denúncias sobre a intensificação do trabalho entre as(os) docentes, tanto da rede pública quanto particular, com claros reflexos na saúde e no bem estar dessa população.

O trabalho realizado na forma remota afeta diferenciadamente  professoras e  professores, com claro prejuízo para as primeiras que, além da carga de trabalho profissional têm, em boa parte das famílias, que cuidar da prole, da casa e, muitas vezes, dos idosos, multiplicando a jornada de trabalho, o cansaço e o adoecimento.

Diante desse fenômeno, pesquisadoras(es) e instituições sindicais estão se mobilizando para entender e denunciar o fenômeno e, ao mesmo tempo, construir mecanismos que permitam enfrentar o problema.  É certo, denunciam, que o problema não se origina com a pandemia, ao mesmo tempo em que reconhecem que esta o agrava enormemente. E, o pior, dizem os especialistas e organizações sindicais: com a volta do trabalho presencial num futuro próximo, de forma não negociada com as organizações docentes como tem sido praxe no Brasil,  o problema tende a aumentar.

Mas, tão grave quanto isso, é o fato de que, apesar de ser um problema que atinge centenas de milhares de profissionais, os sistemas educacionais não estão, hoje, capacitados e instrumentalizados para enfrentar o adoecimento profissional docente. Mesmo os centros de formação têm negligenciado o problema, ainda que se avolumem as denúncias do movimento sindical a respeito do assunto.

Há que se mobilizar em defesa da saúde e do bem estar das professoras e dos  professores. Não é possível imaginar que tais profissionais educarão e cuidarão bem das novas gerações se o conjunto da população as(os) abandonarem á própria sorte. Pressionar o Estado, no âmbito federal, estadual e municipal, para que construam políticas educacionais que garantam o bem estar docente é imprescindível para que tenhamos uma educação de qualidade. É preciso, mais do que nunca, cuidar de quem cuida!


Imagem de destaque: Pedro Cabral

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Cuidar de quem cuida!

O impacto da pandemia nos sujeitos da educação escolar é avassalador, como apontam depoimentos, documentários e estudos científicos. Da educação infantil à pós-graduação, em todo o mundo, a população escolar atingida foi da ordem de bilhões de indivíduos. Se, em alguns países há iniciativas que visam criar condições para a volta do alunado e do professorado ao espaço escolar, em muito outros, como o Brasil, pensar nessa volta é, hoje, uma grande incógnita.

Muito se tem discutido, aqui no Brasil e em vários lugares do mundo, os impactos do distanciamento social escolar na vida cotidiana das famílias, das crianças e das(os) profissionais da educação. Do mesmo modo, há também variados estudos e discussões sobre o impacto da adoção de tecnologias de ensino remoto na qualidade da educação, sobretudo a pública, e no aprofundamento das  desigualdades escolares.

Uma das dimensões que mais têm sido discutidas é o impacto da pandemia sobre professoras e professores, sobretudo da educação básica. Há variadas denúncias sobre a intensificação do trabalho entre as(os) docentes, tanto da rede pública quanto particular, com claros reflexos na saúde e no bem estar dessa população.

O trabalho realizado na forma remota afeta diferenciadamente  professoras e  professores, com claro prejuízo para as primeiras que, além da carga de trabalho profissional têm, em boa parte das famílias, que cuidar da prole, da casa e, muitas vezes, dos idosos, multiplicando a jornada de trabalho, o cansaço e o adoecimento.

Diante desse fenômeno, pesquisadoras(es) e instituições sindicais estão se mobilizando para entender e denunciar o fenômeno e, ao mesmo tempo, construir mecanismos que permitam enfrentar o problema.  É certo, denunciam, que o problema não se origina com a pandemia, ao mesmo tempo em que reconhecem que esta o agrava enormemente. E, o pior, dizem os especialistas e organizações sindicais: com a volta do trabalho presencial num futuro próximo, de forma não negociada com as organizações docentes como tem sido praxe no Brasil,  o problema tende a aumentar.

Mas, tão grave quanto isso, é o fato de que, apesar de ser um problema que atinge centenas de milhares de profissionais, os sistemas educacionais não estão, hoje, capacitados e instrumentalizados para enfrentar o adoecimento profissional docente. Mesmo os centros de formação têm negligenciado o problema, ainda que se avolumem as denúncias do movimento sindical a respeito do assunto.

Há que se mobilizar em defesa da saúde e do bem estar das professoras e dos  professores. Não é possível imaginar que tais profissionais educarão e cuidarão bem das novas gerações se o conjunto da população as(os) abandonarem à própria sorte. Pressionar o Estado, no âmbito federal, estadual e municipal, para que construa políticas educacionais que garantam o bem estar docente é imprescindível para que tenhamos uma educação de qualidade. É preciso, mais do que nunca, cuidar de quem cuida!


Imagem de destaque: Pedro Cabral

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