Autoritarismo, Perseguição Política e Autocensura

Editorial da edição 287 do Jornal Penar a Educação em Pauta

A recente denúncia de que o Governo Brasileiro, por meio se seus órgãos e inteligência, elaborou e distribuiu a outros órgãos uma lista de policiais e intelectuais antifascistas, escancara uma prática que todos sabíamos existir, mas que era realizada nos porões da República.

A perseguição política e intelectuais no Brasil não é invenção do Governo protofascista de Bolsonaro et caterva. Durante toda a história republicana, mas sobretudo durante momentos autoritários e de Estados de Direito Antidemocráticos como Estado Novo (1937-1945) e a Ditadura Civil-Militar (1964-1984), a perseguição, a prisão, a demissão do serviço público ou a aposentadoria compulsória, o exílio ou, pura e simplesmente, a morte dos adversários políticos e intelectuais do governos de plantão tem sido uma constante em nossa história.

Nos períodos recentes, sobretudo com o advento das redes sociais, à repressão orquestrada pelo aparelho de Estado soma-se a perseguição organizada por grupos políticos civis, com ou sem a participação de militares ou outros servidores públicos, aos que fazem oposição ou defendem ideias contrárias ao autoritarismo que estes grupos defendem. Não raras vezes, como temos visto, essa perseguição intelectual e política que se organiza e se realiza pelas redes, transborda-se para as praças públicas e mesmo para as residência dos opositores, muitos deles até a pouco tempo partícipes, direta ou indiretamente, das hostes repressivas.

O autoritarismo e a perseguição política aos opositores organizados pelo aparelho de Estado sob o Governo Temer – quem não se lembra dos espetáculos deprimentes, ilegais e antidemocráticos da Polícia Federal agredindo a Reitores, alguns com desfechos dramáticos, como foi o caso do Reitor da UFSC? –e acentuada no Governo Bolsonaro, e pelos grupos políticos da sociedade civil com clara articulação com Deputados, Senadores e com a própria Presidência da República, têm causado vítimas, apreensão e medo entre pesquisadores e intelectuais brasileiros.

Desdeo Golpe de 2016, não foram poucos os(as)  intelectuais e pesquisadores(as) brasileiros(as)de todas as áreas do conhecimento que passaram a ser mais comedidos em suas manifestações nas redes sociais ou simplesmente fecharam os seus canais de comunicação públicos com os amigos ou com o público mais geral. Agora, sob o Governo Bolsonaro, o medo e a autocensura estão se tornando cada vez mais presentes na comunidade intelectual brasileira.

São autores e autoras de livros didáticos que, com receio de que seus livros não venham a ser comprados pelo governo, buscam adaptá-los aos tempos autoritários em que vivemos; são pesquisadoras e pesquisadores que buscam adaptar seus temas de pesquisa e, mais do que isso, suas palavras, expressões e perspectivas analíticas àquilo que acreditam serem melhor aceitos pelos possíveis censores encastelados nas agências de financiamento.

Certamente o receio de tais intelectuais e pesquisadores não são sem sentido. As manifestações do ex-Ministro da Educação a este respeito; a execração pública de teses e dissertações pela família do presidente e seus grupos de apoio por tratarem de temas que não lhes parecem adequados – sobretudo temas relacionados ao racismo, à homofobia e ao autoritarismo -; a elaboração de lista de pesquisadores e de projetos “non gratos” por assessorias parlamentares, tudo isso, que é amplamente conhecido do público, mostram que o autoritarismo e a repressão política e intelectual são parte da estrutura do Estado e da sociedade brasileira.

Não se pode esquecer, é evidente, que a repressão e a perseguição política e intelectual por parte dos órgãos de Estado não se voltam exclusiva nem principalmente contra os cientistas e intelectuais. A prisão e morte de centenas de lideranças sindicais e populares negras, indígenas, sem terra e sem teto, para dizer apenas de algumas, nos mostram isso cabalmente. É por isso mesmo que pesquisadores e intelectuais, que fazem parte dos estratos mais elevados social e economicamente, não podem se curvar aos ditames autoritários por medo. O que está em jogo é muito mais do que achar a forma mais adequada para dizer “Ditadura Civil-Militar” ou “fascismo” sem agredir as hostes bolsonaristas. O que está em jogo é nossa capacidade de pensar, de fazer críticas e de ajudar no estabelecimento de patamares de civilização que impeçam que a sociedade brasileira continue a gestar e a parir monstros que insistam em devorar os nossos amanhãs!

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Autoritarismo, Perseguição Política e Autocensura Intelectual

A recente denúncia de que o Governo Brasileiro, por meio se seus órgãos e inteligência, elaborou e distribuiu a outros órgãos uma lista de policiais e intelectuais antifascistas, escancara uma prática que todos sabíamos existir, mas que era realizada nos porões da República.

A perseguição política e intelectuais no Brasil não é invenção do Governo protofascista de Bolsonaro et caterva. Durante toda a história republicana, mas sobretudo durante momentos autoritários e de Estados de Direito Antidemocráticos como Estado Novo (1937-1945) e a Ditadura Civil-Militar (1964-1984), a perseguição, a prisão, a demissão do serviço público ou a aposentadoria compulsória, o exílio ou, pura e simplesmente, a morte dos adversários políticos e intelectuais do governos de plantão tem sido uma constante em nossa história.

Nos períodos recentes, sobretudo com o advento das redes sociais, à repressão orquestrada pelo aparelho de Estado soma-se a perseguição organizada por grupos políticos civis, com ou sem a participação de militares ou outros servidores públicos, aos que fazem oposição ou defendem ideias contrárias ao autoritarismo que estes grupos defendem. Não raras vezes, como temos visto, essa perseguição intelectual e política que se organiza e se realiza pelas redes, transborda-se para as praças públicas e mesmo para as residência dos opositores, muitos deles até a pouco tempo partícipes, direta ou indiretamente, das hostes repressivas.

O autoritarismo e a perseguição política aos opositores organizados pelo aparelho de Estado sob o Governo Temer – quem não se lembra dos espetáculos deprimentes, ilegais e antidemocráticos da Polícia Federal agredindo a Reitores, alguns com desfechos dramáticos, como foi o caso do Reitor da UFSC? –e acentuada no Governo Bolsonaro, e pelos grupos políticos da sociedade civil com clara articulação com Deputados, Senadores e com a própria Presidência da República, têm causado vítimas, apreensão e medo entre pesquisadores e intelectuais brasileiros.

Desdeo Golpe de 2016, não foram poucos os(as)  intelectuais e pesquisadores(as) brasileiros(as)de todas as áreas do conhecimento que passaram a ser mais comedidos em suas manifestações nas redes sociais ou simplesmente fecharam os seus canais de comunicação públicos com os amigos ou com o público mais geral. Agora, sob o Governo Bolsonaro, o medo e a autocensura estão se tornando cada vez mais presentes na comunidade intelectual brasileira.

São autores e autoras de livros didáticos que, com receio de que seus livros não venham a ser comprados pelo governo, buscam adaptá-los aos tempos autoritários em que vivemos; são pesquisadoras e pesquisadores que buscam adaptar seus temas de pesquisa e, mais do que isso, suas palavras, expressões e perspectivas analíticas àquilo que acreditam serem melhor aceitos pelos possíveis censores encastelados nas agências de financiamento.

Certamente o receio de tais intelectuais e pesquisadores não são sem sentido. As manifestações do ex-Ministro da Educação a este respeito; a execração pública de teses e dissertações pela família do presidente e seus grupos de apoio por tratarem de temas que não lhes parecem adequados – sobretudo temas relacionados ao racismo, à homofobia e ao autoritarismo -; a elaboração de lista de pesquisadores e de projetos “non gratos” por assessorias parlamentares, tudo isso, que é amplamente conhecido do público, mostram que o autoritarismo e a repressão política e intelectual são parte da estrutura do Estado e da sociedade brasileira.

Não se pode esquecer, é evidente, que a repressão e a perseguição política e intelectual por parte dos órgãos de Estado não se voltam exclusiva nem principalmente contra os cientistas e intelectuais. A prisão e morte de centenas de lideranças sindicais e populares negras, indígenas, sem terra e sem teto, para dizer apenas de algumas, nos mostram isso cabalmente. É por isso mesmo que pesquisadores e intelectuais, que fazem parte dos estratos mais elevados social e economicamente, não podem se curvar aos ditames autoritários por medo. O que está em jogo é muito mais do que achar a forma mais adequada para dizer “Ditadura Civil-Militar” ou “fascismo” sem agredir as hostes bolsonaristas. O que está em jogo é nossa capacidade de pensar, de fazer críticas e de ajudar no estabelecimento de patamares de civilização que impeçam que a sociedade brasileira continue a gestar e a parir monstros que insistam em devorar os nossos amanhãs!

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