ADOLESCÊNCIA
Uma série da Netflix está tirando o sono de muitos pais e educadores. A série cabe muitas análises e, até interpretações diferentes, já ouvi de tudo em relação. O que fazer? O que fazer mediante a tantos desafios que a adolescência traz? Como saber o que um adolescente carrega em seu íntimo? Até onde eu, pai, mãe, posso ir quando o tema é uso do celular?
A adolescência já carrega em si grandes desafios. É quando a criança começa a lidar com mudanças significativas em seu corpo e isso traz junto sentimentos dos mais variados possíveis. Sensações de felicidade, euforia, tristeza, ansiedade, angustia, enfim, é um turbilhão de coisas acontecendo ao mesmo tempo. Imagina tudo isso acontecendo de maneira coletiva? Os adolescentes vendo o sofrimento uns dos outros e sendo julgados por suas atitudes? E é isso que tem acontecido quando jogam na rede suas vidas.
Com a internet e o uso do celular tão livre, em mãos tão inseguras e imaturas, a coisa toma uma proporção enorme. O que, na nossa época, era restrito a um grupo de amigos próximos, hoje, jogado em uma rede social, fica ao alcance de milhares de pessoas em menos de um minuto. Compartilhar a tragédia alheia, seja ela o término de um namoro, ou um beijo que dei em um carinha, ou uma foto mal tirada, etc. é diversão para adolescentes. Expor o outro tem sido um hobby para os adolescentes e eles têm feito isso sem escrúpulos algum, com uma crueldade lamentável. Para o adolescente que está sendo exposto, a vítima da vez (sim, a expressão é essa mesmo, porque é uma situação atrás da outra), é a morte. Alguns, dependendo da maturidade e da situação emocional, simplesmente não suportam tal exposição.
Em um convívio com várias escolas, como consultora pedagógica, percebo que a situação é igual em todas as escolas. Mal surge um problema de exposição em redes sociais e logo vem outro. Nas escolas, sejam privadas ou públicas, não se passa uma semana sem ter algo relacionado a conflitos entre alunos provocados por questões nas redes sociais. Os adolescentes usam o celular para expor, difamar, fofocar, agredir verbalmente, ridicularizar, com uma frequência triste. O caldo sempre entorna na escola, pois, é na escola que o convívio tem que acontecer cara a cara. É na escola que eles, depois de “aprontarem” ou “sofrerem” nas redes sociais, vão ter que lidar com a realidade de encarar todos.
Apesar do uso do celular ser proibido nas escolas, infelizmente, muitos pais ainda permitem, que seus filhos levem o aparelho e isso dificulta muito quando temos situações de bullying entre os adolescentes. Seria tão mais fácil cumprir uma lei, né?
Os pais, permitem que seus filhos tenham senha em seus dispositivos eletrônicos e não fazem a menor ideia do que eles conversam e assistem. O adolescente está vulnerável e exposto a toda e qualquer maldade do mundo e os pais simplesmente não sabem. Quando questionados, dizem que não querem invadir a privacidade do filho. Ora bolas, como bem disse um juiz ao analisar um caso de bullying, os pais são os responsáveis legais pelos filhos e a segurança deles tem que estar em primeiro lugar. Se você não invade a privacidade de seu filho e ele está cometendo atos infracionais na internet, você será o responsável.
Estamos vivendo uma época em que cuidar do filho, para alguns pais, é invadir sua privacidade. Proteger os filhos deve estar acima de toda e qualquer questão. Os adolescentes, se acham muito espertos porque têm acesso a todo e qualquer tipo de conteúdo livremente, no entanto, eles continuam em fase de crescimento em todos os sentidos, eles não possuem uma estrutura cerebral bem formada para lidar com aspectos que agridem seu emocional e abalam suas estruturas.
Nós, pais e educadores, ainda somos os grandes responsáveis pela educação e formação deles. E não adianta entrar naquele jogo de quem é a culpa não, se, escola e família, não se unir e falar a mesma língua, teremos muitos problemas. Os adolescentes jogam o tempo inteiro com os adultos, dizendo que em casa isso pode, ou na escola isso é permitido. O que temos que fazer é manter uma comunicação muito clara e direta para que eles saibam que ambos estamos juntos nessa tarefa tão difícil que é educar e que regras e limites são necessários, sim, pois eles não estão no mundo sozinhos, vivem em comunidades e não podem apenas fazer o que bem lhes agrada, o que é de sua vontade.
Escola e pais que impõem regras e limites, terão muito trabalho, pois o adolescente quer sempre infringir e desafiar, no entanto, o resultado de uma educação que preocupa com a segurança de maneira afetiva, acolhedora e firme em suas ações, certamente terá mais sucesso.
Quem não assistiu à série ADOLESCÊNCIA, recomendo.
Com afeto,
Jacqueline Caixeta