A Voz que Rompeu o Silêncio: A Denúncia do Sindicato

 

Dayse Mara Duarte Silva

Graduanda em História (UFMG) 

 

Uma investigação silenciosa, conduzida por agentes de passos discretos e olhares perscrutadores, havia lançado sua sombra sobre a pasta da educação. O clima, então,  na capital mineira não poderia ser outro, o tempo fechou e um trovão foi visto caindo na rua Carangola, bairro Santo Antônio. Erguido em seu pedestal na cúpula da Secretaria de Educação de Belo Horizonte, sob a égide de uma indicação poderosa, o secretário experimenta agora a vertigem de se encontrar no epicentro de uma teia de suspeitas. Bruno Barral, foi afastado do cargo de secretário de Educação de Belo Horizonte. A ação, deflagrada na manhã desta quinta-feira (03/04), é a terceira fase da Operação Overclean. 

Havia quem percebesse o erro primordial, o “pecado original” que contaminava todo o processo. Ele, que não é da cidade e não tem qualquer vínculo com o Estado, ainda contia uma série de denúncias (improbidade administrativa apontada pelo Ministério Público da Bahia) que não impediu a nomeação. Ele, que já era  engenheiro de formação, foi nomeado para o cargo em abril de 2024, como parte dos acordos para que o União Brasil apoiasse a reeleição do então prefeito Fuad Noman (PSD). E assim, a coisa seguia, cambaleante e ruidosa, uma promessa construída sobre a areia movediça dos erros iniciais.

Em agosto do ano passado, o Sind-REDE/BH denunciou ao Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG) e ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) o cancelamento de licitações para obras em escolas municipais, seguido da substituição das empreiteiras vencedoras por empresas “sugeridas” pela SMED ou pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). O Sind-REDE/BH ainda investiga uma série de contratos problemáticos da gestão Barral. 

Enquanto contratos milionários são firmados sem licitação, a gestão de Bruno Barral tem promovido cortes em questões básicas para o funcionamento da educação pública. Falta de nomeação de professores, causando então o agrupamento de turmas, superlotação; escassez de auxiliares de apoio ao educando, comprometendo a segurança de crianças que necessitam de atendimento individualizado, como os alunos com deficiência; além disso, foi feita a transferência para as escolas a responsabilidade pela compra dos kits escolares, que antes eram adquiridos com recursos da Secretaria Municipal de Educação.

A denúncia, então, carrega consigo o peso da coletividade, a força de um grupo organizado que não se curva diante da fragilidade individual. Um trabalhador isolado pode sentir-se impotente frente a uma situação abusiva, temeroso de represálias que possam comprometer seu sustento. Mas quando a denúncia parte do sindicato, ela ganha robustez, amparo legal e a reverberação necessária para alcançar as instâncias competentes e despertar a atenção da sociedade.

Enquanto isso, aguardamos! Voltemos os olhares para a investigação enquanto o tic-tac compassado de um relógio de parede ecoa, marcando a passagem lenta dos minutos. Agora, o silêncio, antes opressor nos corredores da secretaria, é permeado pelo farfalhar de papéis, pelo clique dos computadores da perícia, pela respiração tensa dos investigadores e a cada nova evidência, a sombra sobre a pasta da educação  torna-se mais densa, prenunciando um futuro incerto, mas que não foi construído por um presente omisso. Nesse dia do sindicado, lembremos que a denúncia tem assinatura coletiva, a de toda uma classe de trabalhadores.  

 

*Texto escrito a partir de matéria produzida pelo Sind-REDE/BH no link https://sindrede.org.br/bruno-barral-e-afastado-da-smed-por-decisao-do-stf-apos-operacao-da-policia-federal/


 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *