A escola não prepara para a vida!
Jacqueline Caixeta
Por muito tempo mantive o discurso de que a escola prepara para a vida e, nesse pensamento, desfilei minha fala por muito tempo. Ainda bem que me considero uma pessoa que tem a certeza de que muito ainda tem para aprender e que minhas verdades não são tão verdades assim, que o tempo pode me fazer refletir e pensar diferente. Quem bom que acredito nisso! Porque comecei a me inquietar com essa fala de que a escola prepara para a vida e estou mudando um pouco meu pensamento.
Se é na escola que lutamos para que o aluno, seja ele criança ou adolescente, saia preparado para a tal vida, ensinando não só o que a lei de diretrizes e bases nos faz ensinar através de suas grades e matrizes que, muitas vezes, exercem mesmo o papel de grade (prender) e matriz (formatar), por qual motivo pensamos que eles não estão vivendo a vida?
A escola é a vida acontecendo!
É na escola que experimentam todas as emoções que a vida pode proporcionar, das mais lindas às mais tristes. É na escola que vivem a frustração, a sensação de derrota e vitória. Não podemos ser apenas um laboratório para a vida, somos a vida acontecendo, simples assim.
A vida dentro dos muros da escola é recheada de situações, sentimentos, vivências que acontecem lá fora. O muro de uma escola só separa o aluno da rua. Dentro da escola, não existem muros para a vida, existe um muro apenas que separa o espaço escola do espaço rua e não podemos acreditar que seja diferente, não podemos nos limitar a acreditar que estamos apenas preparando alguém para alguma coisa, estamos vivendo todas as coisas.
As experiências que se vive em uma escola, nada mais são do que a vida acontecendo no cotidiano do aluno, seja ele criança ou adolescente. Todas as relações do saber, se entrelaçam com o saber ser e saber fazer e o que é isso se não é a vida?
A vida nos convida a lidar com nossos saberes de maneira dialética e solidária, somos chamados a exercer a empatia, com a mesma competência que exercemos nossos saberes técnicos que garantem nossos salários. Nas relações, tanto profissionais, quanto afetivas, faz-se necessário que saibamos articular pensamentos e ações numa linha de reflexão em que o saber, saber fazer e saber ser, são fundamentais. O tempo todo estamos aprendendo e também estamos duvidando do que nos foi ensinado. A todo momento duvidamos de nossas certezas e buscamos outras verdades. Somos seres em constante aprendizado. E eu pergunto: não é assim também na escola?
Quando a escola, inteligente que é, chama seus alunos para os trabalhos em grupo, ou trabalho de campo, o que ela está fazendo que seja diferente das situações que citei acima? O aluno, vivenciando e experimentando trabalhar em parceria com o outro que pensa diferente, que deseja diferente, que quer diferente, nada mais é do que a vida de adulto que levamos em nossos ambientes de trabalho e em nossas relações com as pessoas. Então porque pensar que estamos preparando para a vida? Estamos vivendo a vida como ela é e pronto!
A importância de se frequentar uma escola, desde bem pequeno, é saber que a vida estará acontecendo como ela é para aquele ser tão pequeno, que vivendo o dia a dia de uma escola, seus filhos não estarão apenas sendo preparados para a vida, eles estarão vivendo a vida como ela acontece pra todo mundo.
Vamos refletir sobre nossa fala quando dizemos que na escola estamos preparando nossos alunos para a vida. Não, na escola estamos vivendo com eles a vida e, nessa pequena sociedade escolar, as coisas não são tão diferentes do que na sociedade em que vivemos.
Com afeto,
Jacqueline Caixeta
