A arte da arte
Jacqueline Caixeta
Ensinar e aprender é, sem dúvida alguma, uma grande arte. Uma arte que é uma verdadeira alquimia, tudo se mistura, se laça e entrelaça nessa relação de encantos e desafios que é a educação.
Quem ensina sempre está a aprender, e vice-versa. Não são poucas as vezes que temos depoimentos de professores relatando o tanto que aprendem com seus alunos, sejam eles crianças, adolescentes ou jovens e adultos em seus bancos de faculdade. É de fato uma verdadeira arte essa mistura do ensinar e aprender numa mesma relação.
A sala de aula é nosso grande palco de atuação. É nela que nós, professores pobres mortais, fazemos malabarismos para que a alquimia da arte do aprendizado aconteça.
Inquietos que somos, nós educadores queremos mais sempre, bem mais e, como escola é mesmo lugar de desafio, nos atrevemos a trilhar pelo mundo da arte sempre. Não nos basta saber que nosso ofício é uma grande arte, é preciso trazer a arte para o enorme espaço da escola. Escola, espaço mais democrático que conheço. Nela cabe tudo, até mesmo a gente brincando de fazer arte.
As escolas, geniais que são, ousam trazer as artes cênicas para brincar com o aprendizado e, nessa brincadeira toda, o que se vê é o casamento perfeito da dramaturgia com o saber. Propomos peças teatrais, e os objetivos pedagógicos para que elas aconteçam não nos faltam. Poderia ficar escrevendo horas por aqui, listando todos os objetivos quando se convida crianças e adolescentes para o palco, mas, vou me prender a apenas um!
Proporcionar que criem. Meu Deus, como são criativos e como sabem lidar com o ato de criar. Vocês não imaginam o tanto que é libertador para alunos poderem escrever uma peça e atuar. Como são competentes quando permitimos que eles criem. O ator de criar, além de libertador, é desafiador e provoca uma inquietude imensa em nossos alunos.
O mundo virtual tem roubado de nossas crianças e adolescentes a criatividade. Eles não precisam criar nada, vivem num eterno clicar e buscar tudo pronto que estão ficando passivos, verdadeiros idiotas, no sentido literal da palavra. Uma geração robotizada, imediatista, que não pensa e não cria nada. Não se desafia em nada e quando a escola vem e convida a criar, muitas vezes enlouquecem, mas quando se jogam na ação logo vão soltando as amarras que o mundo virtual lhes prende e se soltam, simples assim.
Muitas vezes escutamos de pais que “esse negócio de ficar ensaiando teatro” é bobagem, estão perdendo aula e, ai, precisamos ensinar aos pais que o ato de criar é tão rico e guarda em si tantas habilidades que é mil vezes mais importante para seu filho do que qualquer aula de qualquer conteúdo. É preciso que os pais aprendam a enxergar o ato de educar fora do livro e do quadro, fora até mesmo do alcance de qualquer professor. A dramaturgia educa por si, fala por si e leva os alunos a saírem da caverna que os prende, que limita a mente e os transforma em robôs.
No palco, todo conhecimento é coadjuvante e se relaciona de maneira dialética com a arte, protagonizando uma relação de encanto entre o saber e a arte que traduz em si o mistério do aprendizado. Trazer para a coxia o frio na barriga do ensaio e da estreia, possibilidade lidar com as emoções coletivamente. No coletivo, se encontra a individualidade e se brinca com a partilha e comunhão que se dá na troca de saberes com tanto sabor que nem se percebe que alí, naquele momento de apresentação, em meio a tanta adrenalina, nasce sempre um novo ser, um ser capaz de criar e se desafiar.
Que venham os aplausos para toda escola que descobriu o quanto é rico brincar com a arte no ato de educar. Que possamos ousar mais com uma prática pedagógica que leva ao ato de criar e se libertar da ignorância e passividade de ser e fazer sempre o mesmo.
Com afeto,
Jacqueline Caixeta