A ABÓBORA NÃO VIRA CARRUAGEM!

Quem não se recorda da história da Cinderela em que a abóbora vira uma carruagem? Neste enredo, tão cheio de mistérios e magias, uma simples moça vira uma linda princesa e encontra o príncipe encantado. Ah, como as histórias infantis têm a magia de nos transportar para lugares tão longes, até mesmo da lógica de tempo e espaço!

O problema é que a gente cresce. É, a gente cresce e nem tudo pode ser tão encantado quanto nos contos infantis.

O príncipe nunca chega num cavalo branco e as abóboras estão anos-luz de virarem carruagens quando a vida é de verdade.

A vida de verdade, assim, tão nua e crua como ela é quando se tem seus mais de trinta e poucos anos, é carregada de pesadelos, desafios e lutas que precisamos vencer dia a dia. Nem de longe, a vida se parece com os contos de fadas e o que tem acontecido é que, muitos de nós, ainda ficamos esperando a magia acontecer.

Percebo muitos jovens assim; como se estivesse querendo viver um conto de fadas e a espera de que, num passe de mágicas, a vida se transforme em pura alegria. Não sei se eles realmente ainda estão presos na infância, guardados lá, no castelo da cinderela ou no bosque da chapeuzinho vermelho, ou se, simplesmente, não querem acordar para a vida de adulto.

Essa geração de trintões e quarentões, achando que ainda estão na infância. Isso seria maravilhoso, se fosse pra manter a pureza e transparência que só a infância é capaz, mas, é trágico quando, na verdade, o que querem é fingir que não cresceram e ainda acreditam no toque da varinha de condão mudando tudo.

Estes adultos, ainda estão se aventurando na tarefa de serem pais. Aí vocês podem imaginar que educação estão ofertando aos filhos. Uma imaturidade tão grande, absurdamente tão mesquinha e individualista. Acham que seus filhos são os únicos do planeta e que suas vontades precisam ser cumpridas. É como se, ainda acreditando em contos de fadas, eles dissessem aos filhos, através de suas atitudes, que o mundo é todo cor de rosa e tudo vai ficar bem porque eles assim o querem.

Papais e mamães que brincam de casinha com seus filhos, fazendo da parentalidade uma doce experiência em que todas as suas vontades são feitas. Assim, como num passe de mágicas.

Adultos tão imaturos criando filhos. Adultos que ainda estão nos contos de fadas, criando filhos. Infelizmente, ao ouvir e vivenciar tantas situações de pais de crianças, percebo que eles ainda estão presos lá no faz de contas de um mundo que ainda não nasceu para eles. O mundo da responsabilidade de terem que criar e educar uma criança.

A escola, além de educar os filhos, precisa educar os pais que estão chegando carregados de seus direitos, lotados de suas razões, certos de suas certezas, principalmente quando o assunto é não frustrar seus filhos e eles mesmos.

Uma geração que não sabe lidar com a frustração tentando educar uma geração de crianças inocentes. O que será que isso vai dar? Onde será que vamos parar?

Se essa galera de pais não descobrir que a abóbora, há muito já não vira mais carruagem, será difícil termos pessoas melhores neste mundo. Será impossível acreditar que a humanidade será mais fraterna, solidária, responsável e autônoma.

Vamos deixar apenas a infância presa nos contos de fadas, papais e mamães, vamos acordar para a vida que tudo o que quer de vocês é responsabilidade de adultos bem resolvidos. A sociedade precisa de pessoas melhores e vocês são responsáveis por isso.

Lá, quando acreditavam em contos de fadas, era outro tempo, em outro espaço, em que era permitido fantasiar e viver a magia de tudo, agora, a vida é de verdade e vocês não podem continuar acreditando em fadas, precisam saber que as bruxas também saltam das histórias para a vida real e que, muitas vezes, vamos ter que enfrentar duelos que vão além dos nossos desejos e nem sempre os finais serão felizes.

Manter a inocência é lindo, mas fazer de conta que educar é dizer sim para que seu filho não frustre, é maldade, daquelas bem más, que só as bruxas sabem fazer.

Desçam daí, saiam desse faz de contas e encarem a vida com mais responsabilidade de pais que não precisam brigar com o mundo tentando defender suas crias só para não sofrerem. O mundo é muito mais do que seu quintal e seu filho vai ter que encarar isso, que seja fortalecido por você e não mimado como se fosse um fantoche em suas mãos. Seu filho não é personagem de um conto de fadas, ele é personagem da sua história de amor, que é tão real quanto a vida e precisa experimentar viver de verdade.

Com afeto,

Jacqueline Caixeta

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